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Rattan Lal, enviado especial do IICA à COP27, propõe a ministros de Agricultura das Américas ações adicionais para combater mudança do clima e exigir financiamento dos países em desenvolvimento

Pre COP 27 Rattan Lal
Lal citou que o aumento da população, o decréscimo da terra cultivável em 30 países até 2025 e a escassez de água e de recursos hídricos renováveis que afetam mais de 4 bilhões de pessoas fazem parte desses fatores que surgem como obstáculos para alcançar o cumprimento dos ODS.

São José, 26 de setembro de 2022 (IICA). Rattan Lal, o cientista considerado a maior autoridade mundial em ciências do solo e Prêmio Mundial da Alimentação de 2020, exortou os mais altos funcionários agrícolas das Américas a abordar 10 pontos chave que dificultam cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e recomendou uma série de ações para avançar na ação climática global.

Lal fez o apelo na reunião de ministros, secretários e altos funcionários dos ministérios da Agricultura do hemisfério, convocada pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) a fim de discutir o papel estratégico do setor agropecuário da região para enfrentar a mudança do clima antes da Conferência das Partes da ONU sobre Mudança do Clima (COP27) que ocorrerá em novembro, no Egito.

Enviado Especial do Instituto para a COP27, Lal citou que o aumento da população de 1,14 milhões por ano e 7,5 milhões por mês, a terra cultivável per capita de 2,2 hectares que está baixando em 30 países para menos de 0,07 até 2025 e a escassez de água e de recursos hídricos renováveis que afetam mais de 4000 milhões de pessoas fazem parte desses fatores que surgem como obstáculos para alcançar o cumprimento dos ODS.

“A concentração de dióxido de carbono, o uso global de energia proveniente de combustíveis fósseis, o consumo de cereais per capita (80 kg), muito alto nos países em desenvolvimento, mas muito baixo nos subdesenvolvidos; as 820 milhões de pessoas que estão com fome no mundo devido aos 3 C (COVID-19, a mudança do Clima e Conflitos, como o que está acontecendo na Ucrânia), as emissões de CO2 per capita mundial de 5,4 toneladas métricas e a pegada hídrica da humanidade (500 m³ por ano)”, são outros pontos enumerados por Lal, Embaixador de Boa Vontade e Cátedra de Ciências do Solo do IICA.

No encontro ministerial, o também professor da Universidade do Estado de Ohio apresentou uma série de eventos que ocorrem a cada minuto no mundo e que devem ser considerados em questões agrícolas, de segurança alimentar e de ação climática.

“A cada minuto no mundo morrem 17 pessoas de fome, 25 hectares são desmatados, a eliminação de água limpa ou potável, o consumo de energia de 1,1 Joules, 5,6 hectares de terra arável são perdidos, há degradação do solo em 10 hectares, emissões de dióxido de carbono de 20 gigagramas, isso é lamentável, e recentemente temos uma grande quantidade de 20 milhões de refugiados da Ucrânia”, alertou Lal.

Nesse sentido, para transformar esse escuro panorama, o laureado cientista sugeriu às autoridades agrícolas presentes cinco objetivos: avançar com os ODS para 2025, utilizar energias renováveis para descarbonizar a agricultura, sequestro de carbono no solo e árvores, ver como estão em matéria de óxido nitroso, pois é mais potente do que o dióxido de carbono, e restaurar a terra degradada.

Também propôs a necessidade de que as Américas, em sua intenção de elevar o perfil do setor agrícola na COP27 e além, possa ressaltar exemplos de êxito na agricultura de conservação da América do Sul, como o caso do Brasil, Argentina, Chile, Uruguai. 

“Capacitar os agricultores para que possam pagar por serviços ecossistêmicos, não deixar nenhuma cultura, nenhum país e nenhum agricultor para trás”, disse, enquanto mencionava outras estratégias como “desenvolver ou fortalecer parcerias público-privadas para pagar por sistemas ecossistêmicos e que podem nos ajudar a passar da ciência à ação”. 

Lal refletiu também que, em termos de ação climática e em medidas de adaptação e mitigação, “não é necessário criar novos programas, se não os implementarmos” e pediu que os que já foram desenvolvidos nas diferentes instâncias sejam adequadamente executados.

“Gostaria dizer que precisamos identificar regiões ecossensíveis sob o ponto de vista ecológico. Lá o sequestro de carbono pode gerar muitos benefícios, há uma grande quantidade de dinheiro ali, na chuvosa floresta tropical e na zona antiga dos Andes, isso também importa”, observou. 

Temas para discussão no âmbito da COP27

Em sua intervenção para os ministros, secretários e altos funcionários dos ministérios da Agricultura das Américas, propôs que, para a COP 27, o setor agrícola da região deve cogitar em levantar a discussão sobre o aproveitamento e o desenvolvimento do conhecimento indígena em combinação com o atual e a inovação científica. 

“Também a educação em todos os níveis, com um enfoque no ambiente, para que as crianças saibam de onde vem a comida, como é um solo saudável, como é um bom ambiente. Devemos ter uma agricultura positiva para a natureza, soluções baseadas na terra, isso é importante, e sugiro um plano de ação nacional que determine um programa, uma agenda determinada no âmbito nacional para tudo o que é águadesenvolver um plano de carbono global ou nacional e para reduzir o aquecimento global em 5 graus centígrados”, complementou.

Tendo-se esses planos e agendas, Lal determinou que é mais viável exigir dos países desenvolvidos os “1 bilhão de dólares com que se comprometeram” para adaptar e mitigar os efeitos da mudança do clima nos países em desenvolvimento.

O Enviado Especial do Instituto para a COP27 concluiu mencionando para as autoridades agrícolas que, após a cúpula, é importante que consigam um “financiamento maior e mais transparente para a agricultura baseada na ciência e um mecanismo de pagamentos aos agricultores pelos sistemas ecossistêmicos”.

“A recompensa financeira sim, podemos demandá-la, ter uma recompensa financeira unicamente para os países que implementam sistemas agrícolas e alimentares nativos”, concluiu.

 

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