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Professor rural argentino que manteve na pandemia as aulas para os seus alunos em uma rádio receberá o prêmio do IICA a “Líderes da Ruralidade”

El profesor está convencido de que la educación es clave para generar arraigo en las zonas rurales y oportunidades de desarrollo personal y colectivo que colaboren a frenar el proceso migratorio hacia las ciudades.
Todos conhecem Daniel Bruno na região. Há 22 anos maneja a rádio FM San Roque e até chegou a incursionar na política local. Hoje complementa as aulas que dá duas vezes por semana pelo rádio com material escrito em livretos.

São José, 24 de junho de 2021 (IICA). O professor Daniel Bruno que, na pandemia, manteve os alunos da sua escola rural conectados dando aulas via rádio FM receberá o prêmio “A Alma da Ruralidade”, que o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) outorga a Líderes da Ruralidade das Américas.

O prêmio é parte de uma iniciativa do organismo especializado em desenvolvimento agropecuário e rural para prestar reconhecimento a homens e mulheres que deixam rastro e fazem a diferença no campo da América Latina e do Caribe.

Bruno vive em San Roque, pequena cidade da província argentina de Corrientes, no nordeste do país, onde defende que a educação formal dê ênfase à capacitação dos jovens na produção de alimentos e na melhoria do meio rural para gerar oportunidades de desenvolvimento pessoal e coletivo que freiem a migração para as cidades.

Além de receber como reconhecimento o prêmio “A Alma da Ruralidade”, os Líderes da Ruralidade destacados pelo IICA serão convidados a participar de diversas instâncias assessoras do organismo especializado em desenvolvimento agropecuário e rural.

“Trata-se de um reconhecimento para os que cumprem o duplo e insubstituível papel: o de avalistas da segurança alimentar e nutricional e o de guardiões da biodiversidade do planeta por sua atuação na produção em qualquer circunstância. O reconhecimento, além disso, tem a função de promover exemplos positivos para as zonas rurais da região”, disse o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero.

Com essa iniciativa, o IICA trabalha para que o reconhecimento facilite vinculações com organismos oficiais, da sociedade civil e do setor privado, para a obtenção de apoio para as suas causas.

“Falamos de pessoas cuja pegada está presente em cada alimento que consumimos onde quer que estejamos, em cada lote de terra produtiva e nas comunidades em que elas e as suas famílias vivem. São homens e mulheres que deixam rastro e são a alma da ruralidade porque produzem, plantam, colhem, criam, inovam, ensinam e unem”, afirmou o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, ao lançar a iniciativa.

“São pessoas que encarnam lideranças silenciosos que é preciso visibilizar e reconhecer. São, sobretudo, exemplos de vida. Porque transformam, superam adversidades e inspiram”, acrescentou.

O IICA trabalha com as suas 34 Representações nas Américas na escolha dos primeiros #Líderesdelaruralidad.

Os resultados da primeira etapa da iniciativa serão apresentados ao Comitê Executivo do IICA, uma das instâncias de governo do Instituto.

 

“Onde há um professor, há esperança”, afirma Daniel Bruno, o mestre que, na pandemia, conectou os seus alunos pelo rádio

 

Buenos Aires. Daniel Bruno nasceu, cresceu e viveu toda a sua vida em San Roque, cidade de cerca de 10 mil habitantes da província argentina de Corrientes, no nordeste do país sul-americano.

Trata-se de uma zona próxima ao rio Paraná, governada pela natureza e pelo meio rural, com solos férteis e umidade abundante, em que a produção agropecuária é o meio de vida da maior parte da população.

Desde hace unos años es el docente a cargo de la materia Lenguaje artístico y comunicacional, en la que les enseña a los estudiantes del colegio secundario Madre Teresa de Calcuta a perderle al miedo al micrófono y hacer radio.
Há anos, ele é professor de linguagem artística e comunicacional, ensinando os alunos do colégio secundário Madre Teresa de Calcuta a perder o medo do microfone e a fazer rádio.

Os cultivos de arroz, frutas e hortaliças, que servem para consumo próprio e comercialização, são o sustento dos agricultores familiares que trabalham em pequenos propriedades de 20 a 40 hectares.

Na região também abundam a pecuária bovina e a atividade florestal.

Bruno, porém, não se dedica à atividade agropecuária, mas sempre contribuiu para a sua comunidade como professor de escola rural e jornalista. Há anos, ele é professor de linguagem artística e comunicacional, ensinando os alunos do colégio secundário Madre Teresa de Calcuta a perder o medo do microfone e a fazer rádio.

O Colégio Madre Teresa de Calcuta está localizado a 33 quilômetros da cidade de San Roque, em Colonia Pando, no qual estão matriculados os filhos dos agricultores familiares da região. É muito comum que essas crianças, na volta das aulas, participem com a família nos trabalhos agrícolas, pois as tarefas são muitas e requerem a colaboração de todos.

Essa tranquila vida rural da província de Corrientes mudou no início de 2020, como em todo o mundo, por causa da pandemia da Covid-19.

Quando as aulas presenciais foram suspensas nas escolas, Bruno primeiro pensou em continuar em contato com os alunos por meio do telefone celular e do WhatsApp, mas logo percebeu que esse método enfrentava sérios obstáculos.

“Fiz uma sondagem e descobri que, das 44 crianças, somente 27 tinham WhatsApp, além da dificuldade que tinham para se conectar por não existir rede Wi-Fi no campo e o sinal da telefonia celular ser por vezes deficiente ou bastante precário. Tanto é assim que um dos alunos, toda vez que precisava me enviar um dever de casa, tinha de subir a um cata-vento para ter o sinal. Então, eu tinha de contornar a falta de conectividade com as escassas ferramentas disponíveis”, conta Bruno.

Nesse contexto difícil, para poder continuar as classes, Bruno decidiu recorrer ao rádio, mais concretamente à emissora FM de San Roque, a mais ouvida na região.

“Em nem todas as casas das zonas rurais existe telefone, mas em quase todas há um rádio, que é uma companhia que continua ocupando um lugar muito importante na vida cotidiana e na cultura dos agricultores. Por isso, dar aulas pelo rádio aumentava muito a possibilidade de chegar a todos os alunos”, disse.

O professor está convencido de que a educação é fundamental para gerar enraizamento nas zonas rurais e oportunidades de desenvolvimento pessoal e coletivo que freiem o processo migratório para as cidades.

A Daniel Bruno lo conocen todos en la zona. Desde hace 22 años maneja la radio FM San Roque y hasta llegó a incursionar en la política local. Hoy complementa las clases que da dos veces por semana a través de la radio con material escrito que vuelca en cuadernillos.
O professor Bruno está convencido de que a educação é fundamental para gerar enraizamento nas zonas rurais e oportunidades de desenvolvimento pessoal e coletivo que freiem o processo migratório para as cidades.

Também sustenta que a educação formal deve dar ênfase à formação dos jovens na produção de alimentos e no desenvolvimento do potencial produtivo do meio rural, para favorecer a prosperidade das comunidades.

“As escolas técnicas são necessárias. Deveriam ser cada vez mais numerosas, porque representam a oportunidade que as crianças têm de aprofundar os seus conhecimentos agrícolas, de levá-los para as suas casas e de desenvolver novas práticas e melhorar as vidas de todos”.

“Os pais”, diz Bruno, “consideram muito importante que as crianças vão à escola e não abandonem os seus estudos. Inclusive, são muitos os adultos que não completaram a sua educação escolar no momento devido e hoje têm vontade de estudar. Por isso, tenho o sonho de, por meio do rádio, criar um projeto que permita a essas pessoas terminarem o colégio que interromperam. É muito difícil para muita gente retomar os estudos nas escolas, pelas ocupações que têm e porque às vezes vivem em zonas rurais afastadas”, contou.

Todos conhecem Daniel Bruno na região. Há 22 anos maneja a rádio FM San Roque e até chegou a incursionar na política local. Hoje complementa as aulas que dá duas vezes por semana pelo rádio com material escrito em livretos. Periodicamente, percorre dezenas de quilômetros na sua camionete para entregar esses textos impressos aos alunos.

“A educação”, afirmou, “favorece a ancoragem e a identificação da gente no meio rural. Sonho em continuar gerando oportunidades, não só para as nossas crianças, mas também para as pessoas que ficaram no caminho e não puderam terminar a sua escolaridade por razões de trabalho ou falta de condições adequadas”, disse.

“As oportunidades devem existir”, concluiu, “e ser iguais para todos: para as crianças que vivem nas cidades, nos distritos e no campo. Por isso, vamos continuar contribuindo com esse grãozinho de areia. Estou convencido de que, onde há uma escola, ou onde há um professor, há esperança”, observou.

 

Mais informação:
Gerência de Comunicação Institucional do IICA.
comunicacion.institucional@iica.int
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