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Ministros das Américas destacam a contribuição de setor agrícola para a mitigação da mudança do clima e seu vínculo com a segurança alimentar e exigem amplo espaço na COP-27

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O pedido de amplo espaço para a agricultura na COP27 veio de ministros e altos funcionários de mais de 30 países das Américas. Entre eles estavam Fernando Mattos do Uruguai, Juan Carlos Torrico da Bolívia, Ariel Martinez da Argentina, Esteban Valenzuela do Chile, Colin O'Keiffe de Antígua e Barbuda, Sol Ortiz do México, e Marcos Montes do Brasil (que participou virtualmente).

São José, 24 de setembro de 2022 (IICA) – Ministros e altos funcionários de mais de 30 países das Américas, reunidos na Costa Rica, destacaram o papel fundamental da agricultura das Américas para a segurança alimentar global, suas contribuições para a mitigação dos efeitos da mudança do clima e seu potencial ainda maior com o uso da ciência e da inovação, e exigiram amplo espaço na COP-27 para destacar a importância estratégica do setor.

“Não se pode falar de mudança do clima sem considerar a agricultura e a produção de alimentos. Devemos reclamar dos países desenvolvidos a vontade de canalizarem de forma urgente e prática os recursos comprometidos aos países em desenvolvimento. Devemos evitar todas os entraves ao comércio de alimentos devido aos desafios climáticos e de segurança alimentar”, disse o Ministro da Agricultura, Pecuária e Pesca do Uruguai, Fernando Mattos.

E acrescentou: “Somos os grandes responsáveis por assegurar ao mundo o abastecimento de alimentos, mas continuamos sendo vítimas de um comércio agrícola internacional que cria cada vez mais obstáculos à abordagem da mudança do clima. Este é um desafio, deveríamos ter um espaço mais amplo na COP-27 devido à importância da agricultura para a mitigação da mudança do clima.

O Ministro Mattos, na reunião ministerial “Desafios da Agricultura das Américas no Enfrentamento da Crise Climática”, convocada pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), sintetizou dessa forma o pedido do representante da Bolívia, Juan Carlos Torrico, da Autoridade Plurinacional da Mãe Terra.

A autoridade boliviana explicou largamente o significado da agricultura na região, exaltando sua identidade familiar, suas boas práticas e seu cuidado com os recursos naturais.

“Quero chamar a atenção sobre o tempo limitado que nos darão na COP-27. São basicamente poucas as oportunidades que teremos em sessões para tratar do tema agropecuário e precisamos preparar a equipe de negociadores dos países, da região. Seria muito bom se a presidência da COP pudesse dar o espaço requerido ao tema agropecuário, para que ele disponha do tempo necessário”, disse Torrico.

O encontro em São José da Costa Rica tem como objetivo discutir o papel estratégico do setor agropecuário da região para enfrentar a mudança do clima frente à próxima Conferência das Nações Unidas (COP-27). Além de ministros e delegações dos países do continente, participam representantes de organismos multilaterais de crédito e de fundos globais de financiamento, bem como o Enviado Especial do IICA à COP-27, Rattan Lal, maior autoridade mundial em ciências do solo.

O Representante da Secretaria de Agricultura da Argentina, Ariel Martinez, afirmou ser fundamental para as Américas “chegar à COP com uma estratégia compartilhada”, enfatizando que um dos desafios dessa Cúpula é que, além de trabalhar sobre o clima, abordará temas de outros setores, como novas regras no comércio internacional.

“Para a Argentina, essas novas regras não podem afetar a quantidade de alimentos que produzimos, não podem tornar o ambiente mais injusto, fazer maior diferença nem gerar concentração. Não podemos deixar ninguém para trás, porque a agricultura não é parte do problema, mas da solução”, reforçou Martínez.

O Ministro da Agricultura do Chile, Esteban Valenzuela, exortou seus colegas a não caírem no “conformismo”, mas a garantirem um “compromisso e agenda de projetos” para que o setor agrícola possa ter acesso aos recursos financeiros necessários para enfrentar os desafios climáticos. Valenzuela também destacou as contribuições do Professor Lal para fortalecer o posicionamento da região nas negociações climáticas.

“Devemos identificar prioridades específicas para seguir em frente, que reflitam interesses comuns”, acrescentou o Ministro de Estado da Jamaica, Franklin Witter.

“Entendemos que a mudança do clima já está aqui, precisamos estabelecer o que e onde funciona, e aplicar isso de forma permanente, no caso de meu país sob a perspectiva de um agricultor de uma ilha pequena”, afirmou por sua vez o Secretário Permanente do Ministério da Agricultura, Pesca e Assuntos de Antígua e Barbuda, Colin O'Keiffe.

A Diretora Geral de Políticas, Prospecção e Mudança do Clima do México, Sol Ortíz, abordou a necessidade de se ter uma coordenação intersetorial com vistas a propiciar visões mais integrais e mais sistêmicas no curto e no longo prazos, para assim se determinar “como atender a esta necessidade urgente de produzir mais e melhor de maneira sustentável, sem deixar de lado a necessidade de se manter funcionando nossos recursos naturais e sistemas biológicos”.

Marcos Montes, Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, ressaltou que a reunião representa uma continuidade do esforço realizado em 2021, no processo preparatório para a Cúpula das Nações Unidas sobre Sistemas Alimentares, o qual permitiu que se chegasse a uma posição convergente da região, colocando-se a agricultura em primeiro plano como solução aos desafios enfrentados pela humanidade.

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Rattan Lal, Professor, Universidade do Estado de Ohio, Prêmio Mundial da Alimentação 2020; Embaixador da Boa Vontade e Cadeira de Ciência do Solo do IICA. Co-Líder da Iniciativa dos Solos Vivos das Américas.

Também observou que o impacto da pandemia de Covid-19, a intensificação dos eventos climáticos extremos e o conflito bélico na Ucrânia comprometem a segurança alimentar, especialmente nos países mais pobres.

Neste sentido, reclamou uma visão mais humana do desenvolvimento sustentável por meio da articulação de seus três pilares: o econômico, o social e o ambiental. “Enfrentamos uma narrativa que busca desviar o foco da principal causa da mudança do clima – os combustíveis fósseis – e imputá-la à agricultura. É essencial que atuemos juntos para contrapor essa visão com a realidade de nosso setor agrícola”, afirmou.

Os exemplos de êxito da região

Rattan Lal assegurou que as boas práticas agrícolas podem ajudar a formulação de objetivos globais para se manter o aumento da temperatura global abaixo dos 1,2°C em relação aos níveis pré-industriais, os quais são mais ambiciosos que os fixados pela comunidade internacional em 2015 no Acordo de Paris.

Entre as ações a serem aprofundadas, o cientista mencionou a utilização de energias renováveis na agricultura, o sequestro de carbono no solo e a restauração de terra degradada. “Devemos ressaltar e mostrar exemplos de êxito da agricultura de conservação na América do Sul”, afirmou.

Lal – Embaixador de Boa Vontade e Cátedra de Ciências do Solo do IICA – se pronunciou a favor do empoderamento dos agricultores por meio do pagamento dos serviços ecossistêmicos oferecidos em suas propriedades rurais graças às suas boas práticas. Também afirmou que a região deve levar ideias inovadoras à COP-27, como a combinação dos saberes ancestrais dos povos indígenas das Américas com os últimos avanços da ciência e da tecnologia, para um cuidado maior dos recursos naturais.

O Professor Lal, que desenvolve com o IICA o programa Solos Vivos nas Américas, considerou que a região deve ter uma rica agenda de ações de mitigação e adaptação à mudança do clima vinculadas à agricultura, para dessa maneira exigir com mais força que os países desenvolvidos cumpram seu compromisso de aportar financiamento no valor de US$100 bilhões anualmente.

Otero, por seu lado, ressaltou o valor da busca de consensos no setor agrícola do continente e destacou que o mundo não alcançará a sustentabilidade ambiental da produção se não houver segurança alimentar. Para isso, é necessário garantir a continuidade da produção agropecuária e maior dinamismo nas zonas rurais.

“Esta vai ser a COP da agricultura”, observou. “E, como continente, é nossa responsabilidade propor com muita força a mensagem de que a atividade é essencial para o desenvolvimento sustentável”.

 

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