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Feiras Livres no Chile: cuidar e inovar

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Comerciantes da capital chilena se apegam às normas sanitárias, as quais são de importância estratégica para manter o abastecimento de produtos agropecuários frescos à população.

Santiago, 26 de maio de 2020 (IICA). - Carlos Garrido, de 60 anos, é feirante no centro de Santiago há mais de cinco décadas. Trabalha no município em que se registra o maior número de infectados por Covid-19 no Chile, a única que se encontra em quarentena total ininterrupta há quase dois meses.

Carlos não parou de vender. Diariamente, pratica o mesmo ritual: se levanta às 5h da manhã para dirigir-se ao Mercado Lo Valledor, o maior centro de abastecimento do Chile, para logo montar seu posto de verduras na feira.

Uma coisa importante mudou para Carlos na atual conjuntura: seu irmão e companheiro de trabalho, Pedro, de 68 anos, com quem nasceu e se criou nestas mesmas feiras, já não pode trabalhar devido ao fato de estar recém-operado do coração, ser diabético e, por sua idade, deve se cuidar e ficar em casa.

“É difícil para ele ficar trancado, já que sua vida é a feira. Sabemos que a única maneira na qual podemos continuar vendendo e levando os alimentos para os bairros e às pessoas de Santiago é seguindo as normas que foram impostas pelas autoridades. Estamos trabalhando com uma conduta segura, verificando os documentos dos carros, utilizando máscaras e luvas, com um posto livre no meio e mantendo a distância social com os clientes”, comentou Carlos, que teve de se organizar para assumir sozinho a responsabilidade do posto e observar as normas de sanidade em meio a uma forte fiscalização.

Ao visitar as feiras, se constata que uma equipe de inspetores está supervisionando para que se cumpram os protocolos amplamente difundidos pela Prefeitura de Santiago, que enfatizou a necessidade de se seguir as normas sanitárias e também salientou a importância estratégica de manter o abastecimento de produtos frescos disponíveis para os vizinhos.

Froilán Flores, presidente da Confederação Nacional de Feiras Livres (ASOF), agremiação que representa 70% das organizações de feirantes no Chile, faz parte do Comitê de Abastecimento para a Covid-19, convocado pela Presidência do Chile. O comitê é formado pelos principais atores da cadeia de distribuição de alimentos e produtos de primeira necessidade, entre os que se encontram feiras livres, supermercados e centrais atacadistas, os quais seguem abastecendo de maneira normal a população.

“Existe 20% das feiras livres com suspensões, menos horário e menos dias de funcionamento em nível nacional. Cremos que não podemos aplicar restrições a estes tradicionais espaços de intercâmbio e encontro comercial dado que são essenciais em uma nação como a nossa, na qual 70% dos produtos de hortifruticultura, 50% de produtos marinhos e outros 50% de ovos são distribuídos por este canal”, disse Flores.

Os membros do Comitê trabalham muito próximo das autoridades para desenvolver um plano sanitário especial para as 1.114 feiras livres e seus 340.000 comerciantes, com o objetivo de torná-las um lugar seguro de abastecimento e poder abrir a totalidade das feiras do país.

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Rosa é cliente de Carlos Garrido, compra abóboras italianas e repolho, mesmo que há um mês e meio que não tenha podido ir à feira. Ela recebeu com muito boa vontade a notícia das compras por telefone e tem realizado vários pedidos de frutas e verduras.

Para o Subsecretário de Agricultura do Chile, José Ignacio Pinochet, as feiras livres no Chile são o lugar mais seguro para que as pessoas possam acessar alimentos sãos, extraídos por agricultores do país, próximos de suas casas e a um preço acessível para todos.

“Como Ministério da Agricultura temos conversado com os prefeitos de todo o Chile para que dar-lhes facilidades de funcionamento. É importante ressaltar que as feiras são parte da solução e não do problema. O fechamento de um destes centros gerará que uma pessoa deva se locomover para um lugar mais longe de sua casa e que, certamente, estará mais saturado, expondo-se mais para contrair a doença”, afirmou o funcionário.

O subsecretário conta que recorreu mais de 20 feiras livres durante as últimas semanas e que está em constante comunicação com os Secretários Regionais Ministeriais (SEREMI) de todo Chile. “Sabemos da complexa situação em que estamos vivendo como país, no entanto, a maioria dos feirantes tem sabido enfrentar a pandemia e tem atendido seus clientes com máscaras, desinfetando constantemente seus postos de trabalho. Neste processo tem sido fundamental tanto o apoio dos prefeitos como a disposição dos comerciantes” comentou.

Dentro das medidas já implementadas está a instalação progressiva de túneis sanitários, lavatórios móveis e uma parceria realizada em nível comunitário com um conhecido aplicativo de pedidos em domicilio para conectar as feiras aos usuários e ao mesmo tempo descongestioná-las.

Rosa Vergara, de 47 anos, vive no boêmio bairro Brasil, no centro de Santiago. Ela tem podido trabalhar de casa já que atende clientes em uma empresa de varejo e desde seu apartamento tem podido trabalhar bem.

Rosa é cliente de Carlos Garrido, compra abóboras italianas e repolho, mesmo que há um mês e meio que não tenha podido ir à feira. Ela recebeu com muito boa vontade a notícia das compras por telefone e tem realizado vários pedidos de frutas e verduras.

“O problema é contar com um abastecimento seguro de alimentos frescos como saladas e frutas e contar com verduras para cozinhar saudável, ter este acesso a compras por telefone é espetacular já que aquele que compra de forma direta na feira, que normalmente vai e nós podemos nos apoiar. Para nós, a feira é um passeio familiar e temos afeto pelos nossos vendedores”, afirma Rosa.

Os preços dos produtos foram mantidos e sua qualidade é excelente, as entregas se concretizam em um par de horas no máximo e, como conta Rosa, a prática do delivery permite evitar aglomerações e pagar de forma digital, através de cartões de débito e crédito e por transferências eletrônicas. 

No Chile, o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) está trabalhando em uma série audiovisual para divulgar normas de cuidado para as pessoas que trabalham na cadeia agroalimentar, incluindo os que comercializam nas feiras livres.

Carlos e Rosa, seguramente, em um futuro não tão longínquo, poderão voltar às suas vidas normais, encontrar-se com um sorriso na feira e retomar algo que era tão simples como vender e comprar.

Por enquanto é tarefa de todos se adaptar, vendedores e consumidores, autoridades e vizinhos. Hora de cuidar e inovar.

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